21 março 2011

São Tomas de Aquino e a fé dos hereges - ensinado por Tomista Dominicano



Após algumas discussões com alguns amigos ultratradicionalistas sobre São Tomas de Aquino e CVII resolvi levar as heresias ensinadas pelos mesmos cATÓLICOS à uma amigo pessoal - Dominicano e fiél aos ensinamentos Tomista.

A questão que sempre aparece entre os chamados - tradicionais - é que o CVII contradiz São Tomas de Aquino quando o documento diz que os irmãos separados dividem a mesma fé em Cristo. (como se um Concílio Ecumênico não tivesse autoridade magisterial).

Eis a resposta dada por um Tomista:

- Como acontece muitas vezes em questões teológicas isto não é um caso de corte à seco que os tradicionalistas gostam de provar que é. Todas as heresias nascem quando pessoas tentam simplificar algum mistério da fé - muitas vezes escolhendo um certo texto (ou parágrafo) de papas, concílios, a Summa, etc, para apresentar o seu caso e com isso acabam ocultando questões maiores.
Para um correto estudo teológico (como Tomás de Aquino sempre ensinou) é necessário considerar diferentes verdades lado a lado e ver como elas se equilibram entre si para formar uma unidade - mesmo que às vezes a unidade não possa ser absolutamente clara para as nossas mentes humanas (por exemplo livre-arbítrio e predestinação).

O que São Tomas de Aquino diz  em II.IIae.Q5 (negar um artigo de fé é negar todos os outros) tem que ser equilibrado com o que ele diz em outro lugar, por exemplo em II.IIae.Q1.A6. onde ele compara o artigos de fé com as partes de um corpo humano: alguns são  inferiores do que os outros porque "levam" a eles ou "decorrem" deles.
Assim, a doutrina da Trindade e da Encarnação (veja II.IIae.1.6) são "objetos-chefe" da fé enquanto outros podem ser inferiores e derivados destes, quer porque levam a uma afirmação de um deles (como acreditar na  Escritura sendo obra divina), ou por que segue com eles (como acreditamos que a Igreja é ao mesmo tempo visível e invisível ou o papa é infalível).

É verdade que um crente não tem a liberdade de desacreditar nas verdades "inferiores" porque a fé é uma delas. Mas o fato de que há uma "hierarquia de verdades" parece complicar a questão de quem pode ou não ser chamado de "cristão" pois qualquer cristão protestante hoje afirmaria a plenitude do Credo Niceno-Constantinopolitano. Os Padres do CVII decidiram que: sim, nós podemos legitimamente chamar os protestantes "cristãos", embora sua relação com o Corpo de Cristo não é "completa". O raciocínio "tomista" por trás disso, se é que estão buscando este raciocínio, seria algo parecido com isto: muitos cristãos protestantes parecem favoráveis ao "artigos-chefes" da fé, pois eles também foram batizados no Pai, Filho e Espírito Santo, embora rejeitem artigos de categoria inferior. Quem somos nós para dizer que eles não possuem relação com o Corpo de Cristo? Que são essencialmente os mesmos, sobre o estado de sua alma diante de Deus, como um hindu ou animista Africano? (Resposta: não - eles são os "cristãos" em relação imperfeita com a Igreja.)

Os indivíduos são coisas particulares e imensamente complexo, o conhecimento de casos particulares (como qualquer bom tomista diria) é sempre mais difícil de colocar o dedo.

Em uma nota, Charles Journet ( tomista c. 20) diz: "heresia e cisma são pecados pessoais, vícios pessoais. Estes não são herdados. Para que se tornem pecados entre gerações, cada geração deve conscientemente renovar o pecado de heresia ou cisma ..... " Poucos protestantes modernos se enquadram nesta categoria. Como o próprio Concílio (e no Catecismo) diz, a coisa fundamental, que faz os cristãos protestantes cristãos é o sacramento do batismo (cf. Unitatis redintegratio # 3), pelo qual são incorporados no Corpo de Cristo e é dado o dom da fé , esperança e caridade - isto é, a fé no Deus trinitário expressa no Credo, espera que Ele vai salvá-los, e caridade, que abençõa as obras que executam. O fato de que a dissidência - apesar de quantos conscientemente e "intencionalmente"? - de, digamos, infalibilidade papal, dogmas marianos, etc - certamente ferem sua relação com este corpo, cuja plenitude está na Igreja Católica, mas o Concílio teve o cuidado de dizer que isto não pode significar que eles não têm qualquer relação com o corpo. Eu acho que aqui você pode interpretar as palavras de Tomás de Aquino em II.IIae.5.3- "não acreditar num artigo de fé inferior fere a sua relação com o Todo". Esta interpretação, sem dúvida, pode-se argumentar, mas é possível um exame.

No final, isso pode também ser um caso discutível no lado tradicionalista, mas não demonstrável: desvios da fé. Arius tinha argumentos muito sólidos de forma racional para mostrar que Cristo era uma criatura.

No final porém, acaba sendo uma questão de autoridade. É interessante que esses tradicionalistas encontram passagens espalhadas por toda a história da Igreja, completamente fora de contexto e apresentam em desordem para contradizer o que diz o Concílio Vaticano II, mas que autoridade eles têm para falar sobre o assunto? Parece que eles próprios têm implicitamente negado a sucessão apostólica ao rejeitar o Vaticano II - ou talvez eles tenham alguma outra explicação para os "verdadeiros sucessores"? Como uma nota lateral, gostaria de saber se esses tradicionalistas chamariam os cristãos ortodoxos orientais de "cristãos" uma vez que há dissidência do primado de Pedro. Pelo critério de "Aquino", que os mesmos gostam de aplicar, me parece que a resposta seria " não ".

Br. Peter Junípero, O.P.
(Peter respondeu a questão em uma linguagem simples à meu pedido)

Parece que os tradicionalistas esqueceram de estudar a tradição da Igreja Católica ;) (nota minha) 

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