18 julho 2010

Verdades sobre a comunhão na mão



...Eu devo confessar uma coisa: eu, durante vários anos como padre, insisti terminantemente que as pessoas comungassem na mão, devido aos meus estudos. Eu estudei as catequeses mistagógicas de São Cirilo, e lá ele ensina a comungar na mão. E eu insistia nisso, porque afinal das contas, são os Santos Padres que estão nos ensinando; é a volta às fontes. E eu insistia nisso, e ficava até com raiva quando um seminarista vinha comungar na boca. Mas vejam: eu sou canonista, e também sabia que o seminarista tinha o direito de receber a comunhão na boca. Por isso, eu não proibia, só ficava incomodado. Tudo isso era o que eu lutava e cria até a pouco tempo atrás, até que Bento XVI me deu uma rasteira.

Bento XVI começou a dar a comunhão na Liturgia do Papa para os fiéis de joelhos, num genuflexório e na boca. Eu fiquei inicialmente chocado com aquilo, até que eu fui estudar. Por que ele é Papa! Se ele está tomando uma atitude, alguma razão tem. Então eu fui estudar quais são as razões, e como é que surgiu a comunhão na mão.

A primeira coisa que me espantou: descobri que a comunhão na mão – que é algo que podemos fazer, porque foi permitido – ela é uma excessão, segundo a lei canônica; ou seja, canonicamente a forma normal, comum, corriqueira , de se comungar, é na boca. É isso que foi colocado na legislação por Paulo VI e está nas várias legislações de João Paulo II.

Mas desde que Paulo VI concedeu a comunhão na mão, ela é claramente uma exceção, permitam-me a redundância, excepcionalíssima. Vamos ficar com a verdade: a atual legislação da Igreja diz que a comunhão normal é na boca.

No Missal de Paulo VI , quando ele foi aprovado em 1969 e 1970 – são as primeiras aprovações do Missal que nós celebramos – não existe nenhuma referência à comunhão na mão. A coisa surgiu depois. E investigando, eu descobri que nos países do Norte da Europa – Holanda, Alemanha… – o pessoal começou a comungar na mão por iniciativa própria, por desobediência. O Papa ficou sabendo, e o Vaticano disse: parem com isso! Mas o pessoal continuou. Então chegou uma hora em que, para não ter uma rebelião em massa, o Vaticano deu uma autorização as Conferências Episcopais – como a CNBB, aqui no Brasil, por exemplo – para que elas, se acharem oportuno, peçam permissão a Santa Sé e a Santa Sé então dá permissão para a Conferência receber a comunhão na mão; mas o normal continua sendo a comunhão na boca. E isso eu descobri lendo um livro de um Arcebispo que foi responsável por toda a Reforma Litúrgica: Dom Annibale Bugnini (La Riforma Liturgica 1948 – 1975, Roma: CVL). Foi ele o chefe da comissão responsável por elaborar o Missal que nós temos hoje. E isso ele disse claramente, é ele que narra; eu não ouvi isso de uma fofoca.

Quais são as razões de Bento XVI agora estar dando a comunhão na boca e de joelhos? O Papa já falou algumas vezes, quando ele era cardeal, e ultimamente ele tem falado através dos seus ajudantes. Portanto, as informações que vou passar aqui são de ajudantes do Papa, como seu mestre de cerimônias, Mons. Guido Marini; o ex-secretario da Congregação para o Culto Divino, Dom Ranjith, e o atual Prefeito da Congregação para o Culto Divino, cardeal Cañizares.

O Papa acha que nós estamos correndo um risco muito grande de perder a devoção e a fé na Eucaristia. Infelizmente, em alguns lugares da Igreja, a Presença Real de Jesus na Eucaristia está se tornando uma piada: ninguém acredita mais.

São Cirilo de Jerusalém, em suas Catequeses Mistagógicas, recomendava aos seus fiéis que recebessem a comunhão nas mãos, e eu não estou recriminando isso: não é pecado receber a comunhão na mão. Mas São Cirilo não vive nos nossos dias, e eu duvido que na época dele houvesse esse tipo de escândalo que existe hoje, de gente que perdeu a fé na Presença Real de Jesus na Eucaristia. Isso é muito grave e nós precisamos fazer alguma coisa.

Não é uma questão de arqueologia litúrgica: se formos fazer arqueologia, é evidente que a comunhão na mão é muito mais antiga, é muito mais tradicional, do que a comunhão de joelhos e na boca. Mas o problema é que nós estamos em uma época em que:
 a Presença Real de Jesus na Eucaristia está sendo esquecida, deixada de lado, e isso mudou a minha opinião: o Papa tem razão. Uma pessoa que recebe a comunhão de joelhos está se inclinando diante da Majestade de Deus: Deus é Deus, eu não sou nada. A pessoa que está recebendo a Comunhão na boca porque até a migalha mais pequenina da Hóstia Consagrada é preciosa; não somente é pedagógico, mas é verdadeiramente adoração, é verdadeira devoção eucarística, é verdadeira entrega a Deus.
Nos tempos que correm, nós não podemos nos dar ao luxo de arqueologismos litúrgicos. No primeiro milênio não tinha comunhão na boca, mas também não tinha herege que não acreditava na Presença Real de Jesus na Eucaristia. Nós estamos em um tempo diferente, e a Igreja evolui também na sua forma de demonstrar devoção a Cristo. Foi de mil anos para cá que começaram aquelas heresias que negaram a Presença de Cristo na Eucaristia que culminaram com a reforma protestante, que a negou de vez, e agora estamos nessa situação.

O Papa está nos dando exemplo de devoção eucarística, de verdadeira união a tradição da Igreja, mas uma tradição que sabe evoluir ao longo dos tempos; a Igreja sabe, como mãe e mestra, colocar o remédio certo na hora certa. E em um tempo em que, infelizmente, acontecem abusos e padres que perdem a fé na Presença de Jesus na Eucaristia, a Igreja como mãe e mestra quer renovar essa fé.

Por Pe Paulo Ricardo

Deo Gratias!

Leia a entevista (muita boa) e completa aqui: Padrepauloricardo.org

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In Christo Rege!

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