31 maio 2010

Festa da Visitação de Nossa Senhora à Santa Isabel


Últimos restos de civilização cristã
Uma mensagem que circulou pela Internet chamou a atenção. Trata-se de um depoimento que descreve alguns hábitos familiares de outrora, ainda perfumados pelo que restava de civilização cristã, e hoje desaparecidos, submersos que foram pela enxurrada do paganismo moderno. Fala-nos das visitas que as famílias se faziam entre si, e que constituíam um costume ainda na década de 1950.

Não se trata de fato especificamente religioso. As visitas eram um pequeno acontecimento da vida social, sobretudo das classes média e operária. Mas vinham impregnadas daquele prazer inocente da família católica, como resto ainda vivo da civilização cristã outrora pujante, cujo desaparecimento faz Nossa Senhora chorar.

O texto fala por si, e limitamo-nos a transcrevê-lo parcialmente.

Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho, porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.

E os donos da casa recebiam alegres a visita: ‘Vamos nos assentar, gente! Que surpresa agradável!’

A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre, e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando-nos e olhando a casa do tal compadre. Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro, casa singela e acolhedora. A nossa também era assim.

Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras, que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, alguém lá da cozinha, geralmente uma das filhas, dizia: Gente, vem aqui pra dentro, que o café está na mesa.

Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa.

Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida. Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou, e me formei em solidão. Para isso tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua, e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa, e as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.

Casas trancadas. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos, do leite...*
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* José Antônio Oliveira de Resende, professor de Prática de Ensino de Língua Portuguesa, do Departamento de Letras, Artes e Cultura da Universidade Federal em São João d’El-Rey (MG).

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In Christo Rege!

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