(Rito Carmelita - celebrado pelo Mosteiro Carmelita Imaculado Coração de Maria, Wyoming -USA)
1. Resplendens stella.* «Uma estrela de imenso esplendor» (Livro da
Vida 32, 11). Com estas palavras, o Senhor animou Santa Teresa de Jesus a
fundar em Ávila o mosteiro de São José, início da reforma do Carmelo da qual, no
dia 24 do próximo mês de Agosto, serão celebrados os quatrocentos e cinquenta
anos. Por ocasião desta feliz circunstância, quero unir-me à alegria da querida
Diocese de Ávila, da Ordem dos Carmelitas Descalços, do Povo de Deus que
peregrina na Espanha e de todos aqueles que, na Igreja universal, encontraram na
espiritualidade teresiana uma luz segura para descobrir que por Cristo chega ao
homem a verdadeira renovação da sua vida. Apaixonada pelo Senhor, esta mulher
preclara desejava unicamente agradar-lhe em tudo.
Com efeito, um santo não é aquele que realiza grandes proezas baseando-se na excelência das suas qualidades humanas, mas aquele que permite com humildade que Cristo penetre na sua alma, que aja através da sua pessoa, que Ele seja o verdadeiro protagonista de todas as suas obras e desejos, que inspire cada iniciativa e sustente cada silêncio.
2. Só quem leva uma intensa vida de oração pode deixar-se conduzir deste modo
por Cristo. Ela consiste, segundo as palavras da Santa de Ávila, em «falar de
amizade, permanecendo muitas vezes a sós com quem sabemos que nos ama» (Livro
da Vida 8, 5). A reforma do Carmelo, cujo aniversário nos enche de júbilo
interior, nasce da oração e tende para a oração. Ao promover um retorno radical
à Regra primitiva, afastando-se da Regra mitigada, santa Teresa de Jesus queria
propiciar uma forma de vida que favorecesse o encontro pessoal com o Senhor,
para o qual é necessário «retirar-se em solidão, olhar para dentro de si e não
se admirar com um hóspede tão bondoso» (Caminho de perfeição 28, 2). O
mosteiro de São José nasce precisamente com a finalidade de que as suas filhas
tenham as melhores condições para se encontrar com Deus e estabelecer uma
relação profunda e íntima com Ele.
3. Santa Teresa propôs um novo estilo de ser carmelita, num mundo também
novo. Aqueles eram «tempos árduos» (Livro da Vida 33, 5). E neles,
segundo esta Mestra do espírito, «são necessários amigos fortes de Deus para
sustentar os fracos» (Ibid., 15, 5). E insistia com eloquência: «O mundo
está a arder; querem voltar a condenar Cristo, querem fazer desabar a Igreja.
Não, minhas irmãs, não é hora de falar com Deus sobre assuntos de pouca
importância» (Caminho de perfeição 1, 5). Não nos resulta familiar, na
conjuntura em que vivemos, uma reflexão tão luminosa e interpeladora, proposta
há mais de quatro séculos pela Santa mística?
O fim último da Reforma teresiana e da criação de novos mosteiros, no meio de
um mundo com escassos valores espirituais, consistia em tutelar com a oração a
obra apostólica; em propor um estilo de vida evangélica que fosse modelo para
quantos procuravam um caminho de perfeição, a partir da convicção de que toda a
autêntica reforma pessoal e eclesial passa pelo reproduzir cada vez melhor em
nós mesmos a «forma» de Cristo (cf. Gl 4, 19). Não foi outro o
compromisso da Santa, nem das suas filhas. E também não foi outro o compromisso
dos seus filhos carmelitas, que visavam unicamente «ir mais além em todas as
virtudes» (Livro da Vida 31, 18). Neste sentido, Teresa escreve: «Aprecia
mais [nosso Senhor] uma alma que, através do nosso esforço e oração, lhe
conquistássemos mediante a sua misericórdia, do que todos os serviços que lhe
podemos prestar» (Livro das Fundações 1, 7). Diante do esquecimento de
Deus, a Santa Doutora anima comunidades orantes, que salvaguardem com o seu
fervor quantos proclamam em toda a parte o Nome de Cristo, que supliquem pelas
necessidades da Igreja, que levem ao Coração do Salvador o clamor de todos os
povos.
4. Também hoje, como no século XVI, e entre rápidas transformações, é preciso
que a oração confiante seja a alma do apostolado, para que ressoe com clareza
evidente e dinamismo pujante a mensagem redentora de Jesus Cristo. É urgente que
a Palavra de vida vibre nas almas de forma harmoniosa, com notas sonoras e
atraentes.
Nesta tarefa apaixonante, o exemplo de Teresa de Ávila constitui uma grande
ajuda para nós. Podemos afirmar que, no seu tempo, a Santa evangelizou sem
tibieza, com ardor jamais apagado, com métodos distantes da inércia e com
expressões cheias de luz. Isto conserva todo seu vigor na encruzilhada actual,
que sente a urgência de que os baptizados renovem o seu coração através da
oração pessoal, centrada também, segundo o ditado da Mística de Ávila, na
contemplação da Santíssima Humanidade de Cristo como único caminho para
encontrar a glória de Deus (cf. Livro da Vida 22, 1; As Moradas 6,
7). Só assim poderão formar-se famílias autênticas, que descubram no Evangelho o
fogo do seu lar; comunidades cristãs vivas e unidas, alicerçadas em Cristo como
na sua pedra angular e que tenham sede de uma vida de generoso serviço fraterno.
É também desejável que a oração incessante promova a prática prioritária da
pastoral vocacional, salientando peculiarmente a beleza da vida consagrada, que
é necessário acompanhar devidamente como tesouro que é da Igreja, como torrente
de graças, tanto na sua dimensão activa como contemplativa.
A força de Cristo levará igualmente a redobrar as iniciativas para que o povo
de Deus recupere o seu vigor da única forma possível: criando espaço dentro de
nós para os sentimentos do Senhor Jesus (cf. Fl 2, 5), procurando em
todas as circunstâncias uma vivência radical do seu Evangelho. E isto significa,
antes de tudo, permitir que o Espírito Santo nos faça amigos do Mestre e nos
configure com Ele. Significa também acolher em tudo os seus mandatos e adoptar
em nós critérios tais como a humildade na conduta, a renúncia ao supérfluo, não
ofender os outros e comportar-se com simplicidade e mansidão de coração.
Assim, quantos nos circundam sentirão a alegria que nasce da nossa adesão ao
Senhor, e que nada antepomos ao seu amor, permanecendo sempre dispostos a
explicar a razão da nossa esperança (cf. 1 Pd 3, 15) e vivendo, como
Teresa de Jesus, em obediência filial à nossa Santa Mãe Igreja.**
5. É a esta radicalidade e fidelidade que nos convida hoje esta filha tão
ilustre da Diocese de Ávila. Acolhendo a sua bonita herança, nesta hora da
história, o Papa exorta todos os membros desta Igreja particular, mas de maneira
profunda os jovens, a levar a sério a comum vocação à santidade. Seguindo os
passos de Teresa de Jesus, permiti-me dizer a quantos têm o futuro à sua frente:
aspirai também vós a ser totalmente de Jesus, só de Jesus e sempre de Jesus. Não
tenhais medo de o dizer a nosso Senhor, como ela fez: «Sou vossa, para Vós
nasci; o que quereis fazer de mim?» (Poesia 2). E peço-lhe que saibais
responder também aos seus chamamentos iluminados pela graça divina, com «firme
determinação», para oferecer «o pouquinho» que houver em vós, convictos de que
Deus nunca abandona quantos deixam tudo para a sua Glória (cf. Caminho de
perfeição 21, 2; 1, 2).
6. Santa Teresa soube honrar com grande devoção a Virgem Santíssima, que ela
invocava com o doce nome de Carmen. Sob o seu amparo materno coloco os afãs
apostólicos da Igreja em Ávila a fim de que, rejuvenescida pelo Espírito Santo,
encontre os caminhos oportunos para proclamar o Evangelho com entusiasmo e
coragem. Maria, Estrela da Evangelização, e o seu casto esposo São José
intercedam para que aquela «estrela» que o Senhor acendeu no universo, a Igreja,
com a reforma teresiana continue a irradiar o grande brilho do amor e da verdade
de Cristo a todos os homens. É com estes votos, Venerado Irmão no Episcopado,
que lhe envio esta mensagem, a qual peço que faça conhecer à grei confiada aos
seus cuidados pastorais, e de maneira muito especial às queridas Carmelitas
Descalças do convento de São José, em Ávila, que perpetuam no tempo o espírito
da sua Fundadora, e de cuja oração fervorosa pelo Sucessor de Pedro tenho grata
confirmação. A elas, a Vossa Excelência e a todos os fiéis de Ávila, concedo com
afecto a Bênção Apostólica, penhor de copiosos favores celestiais.
Vaticano, 16 de Julho de 2012.
BENEDICTUS PP. XVI
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MENSAGEM DO PAPA BENTO XVI
AO BISPO DE ÁVILA POR OCASIÃO
DA CELEBRAÇÃO DO 450º ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO
DO MOSTEIRO CARMELITA DE ÁVILA
E DA REFORMA DA ORDEM CARMELITANA
AO BISPO DE ÁVILA POR OCASIÃO
DA CELEBRAÇÃO DO 450º ANIVERSÁRIO DE FUNDAÇÃO
DO MOSTEIRO CARMELITA DE ÁVILA
E DA REFORMA DA ORDEM CARMELITANA
Fonte: Vaticano
* Jesus disse à Santa Teresa que as suas fundações seriam "Estrela de esplendor".
**Santa Teresa de Jesus viveu na época de Lutero, em uma época que a secularização tinha tomado conta dos mosteiros, conventos e religiosos vivendo pior que leigos em matéria de fé. A santa encontrou muitas oposições para seguir adiante com a reforma que o próprio Jesus estava pedindo, mas ela nunca DESOBEDECEU as autoridades ou mesmo faltou com respeito ao clero. Ainda que muito tentada pelo demônio em desobedecer os seus superiores, como ela mesma descreve, se entregava em oração e Jesus dizia à ela que mais Lhe agradava a obediência. Depois de muito sofrimento, seus superiores mudavam sendo substituídos por outros que providencialmente ajudavam na sua missão da reforma.
É incrível como as "cenas" se repetem e tem gente que ainda não aprende!
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