Introduzindo o canto na Igreja doméstica

A música apropriada para o rito romano é o canto gregoriano. Este ponto tem sido repetido por numerosos Pontífices, pelo Concílio Vaticano II e por estudiosos litúrgicos abrangendo os séculos. Há muitas razões para isso, é claro, mas a principal é que o canto gregoriano cresceu ao lado da liturgia, tanto que os dois estão intrinsecamente ligados. Onde há liturgia, há o canto e onde o canto está ausente, a liturgia sofre muito.

 

O termo igreja doméstica aparece nos documentos do Concílio Vaticano II. Há alguns que dizem que o Papa Paulo VI criou o termo, ainda sim existem documentos da igreja primitiva que se referem à família como Igreja doméstica.(vê-se referência do termo na encíclica Casti Connubii). Parece que este conceito tem sido uma parte da tradição católica desde a época patrística. A essência da igreja doméstica é que a família, e não a paróquia geográfica, é a “igreja” em primeiro lugar que encontramos. Isto é verdade, como uma criança, mas ela permanece fiel mesmo na idade adulta.

 

O Catecismo da Igreja Católica ensina que o lar é a primeira escola da vida cristã, o lugar onde as pessoas aprendem o perdão, amor e uma vida de oração.

Juntando estas duas idéias, parece que (1) se a música apropriada para a Igreja Católica é o canto, e (2) se a Igreja doméstica é o primeiro lugar que encontramos adoração, então segue-se que o canto gregoriano deve encontrar um lugar dentro da vida da família. Eu sugiro que há três maneiras em que o canto sagrado pode se tornar enraizado na família e, assim, servir como um meio de formação para pais e filhos.

Em primeiro lugar, enquanto a família tem a obrigação primária de viver uma vida de oração, toda a oração encontra sua fonte e ápice na sagrada liturgia. É na sagrada liturgia, em que o canto da Igreja encontra o seu propósito e realização. Os pais que frequentam a paróquia que utiliza o canto regularmente são muito afortunados na verdade, pois essas pessoas serão capazes de encontrar tanto um ponto de partida e apoio para a introdução do canto que eles trazem para dentro da casa. É absolutamente essencial que nós experimentemos o canto no contexto da liturgia. Para aqueles que não são afortunados o bastante em ter uma schola regular ou mesmo ocasionalmente, talvez os pais possam encontrar outras oportunidades neste assunto.

A segunda maneira de trazer a música da Igreja para a Igreja doméstica é através de gravações de alta qualidade. Vivemos na era da internet, onde os outrora obscuros álbuns já estão disponíveis no clique de um mouse. Obtendo os cânticos apropriados para a Missa é mais fácil do que nunca. Eu recomendo conseguir uma cópia das várias configurações do Ordinário Massa (peças como o Agnus Dei e o Kyrie que são uma parte de cada Missa). Porque as crianças já estão familiarizados com o seu lugar na missa, os pais podem apresentar não só sua música, mas também os seus significados com bastante facilidade. Não é preciso ser um erudito do latim para dizer a uma criança: “Este é o Cordeiro de Deus”, e para lembrar a criança da tradução vernácula. Eu também recomendaria começar algumas peças com as quais não estão familiarizados, e cuja tradução pode não ser acessível a todos. A razão para isto é dupla. Primeiro, não é necessário entender as palavras em latim, a fim de apreciar amúsica. Às vezes é melhor apenas se sentar e ser absorvido pela glória do subir e descer gracioso das notas.

Em segundo lugar, as peças dos próprios da Missa (aquelas peças que mudam de missa para missa, como o canto introdutório ou Intróito) são frequentemente mais ornadas e mais bonitas. Em particular, os cânticos de comunhão, que fazem parte da liturgia da Igreja, muitas vezes são obras-primas em si mesmas. Finalmente, eu recomendaria conseguir cópias dos ”padrões”, cantos que não são necessariamente uma parte da missa, mas que ajudam a formar o rico patrimônio da tradição musical da Igreja. Estes cânticos incluem os hinos Marianos clássicos (Ave Maria, Salve Regina, etc), bem como outros hinos, como o Te Lucis e o Tantum ergo.

A terceira maneira para levar o canto da Igreja para a família é de realmente ensinar as crianças estes ”clássicos católicos”. Um amigo meu que cresceu na Itália, muitas vezes relembra sobre o canto que era cantado na sua humilde casa. Os filhos todos cresceram conhecendo um repertório inteiro de seleções de gregorianos. Ele também lamenta a ausência de um ambiente como esse na nossa cultura atual. De minha parte, isto parece-me mais uma das maneiras em que temos visto uma perda de identidade católica. Essa música é nossa música, é uma parte de nossa herança. Uma família italiana jamais abandonaria pratos de massas tradicionais de seu repertório de jantar. Da mesma forma, um católico nunca deve abandonar o seu próprio patrimônio musical. Apesar do fato de que a maioria das liturgias têm, ao contrário da recomendação do Concílio Vaticano II, deixado o canto gregoriano na poeira da década de 1960, continua a ser a música tradicional do rito romano.



Nossa própria família levou a idéia de igreja doméstica a sério e trouxe a liturgia da Igreja, literalmente, para a casa na recitação da Liturgia das Horas. A Liturgia das Horas é um conjunto de orações que são ditas em vários momentos ao longo do dia.Os sacerdotes são obrigados a rezar o Ofício Divino, mas os leigos são encorajados afazê-lo também.


O objetivo das Horas é para santificar o dia inteiro, participando no culto público da Igreja. Da mesma forma que cada Missa é uma participação na liturgia celeste, assim também é a Liturgia das Horas. O papa, cada bispo, cada padre, e até mesmo os Anjos e Santos estão orando cada hora junto com a gente. Claro, não estamos aqui igualando a Liturgia das Horas com o Santo Sacrifício da Missa, mas sim reconhecendo que a Liturgia das Horas é um eco da Liturgia da Missa. Há aqui um paralelo com a igreja doméstica e a maneira pela qual é um eco da igreja maior.

Começamos a recitar as Completas (ou Oração da Noite) com as crianças antes de dormir. As Completas é bem adequado para crianças, porque ela se repete a cada semana. Os pequeninos vão memorizar praticamente a semana inteira em menos de um ano apenas ouvindo. (Para “gente grande” é preciso muito mais tempo, é claro!). Isso tudo tem um influência sobre o tema do Canto Gregoriano, porque é tradicionalcantar os salmos que formam a espinha dorsal de cada hora. Isso não precisa ser feito em latim, é claro, pois há tons de cantochão fáceis que podem ser aprendidos até mesmo por uma pessoa destreinada musicalmente. Mais precisamente, é comum para terminar a hora com um cântico mariano próprio de cada tempo litúrgico. Por exemplo, no tempo do Advento é o canto da Alma Redemptoris Mater. Os outros incluem AveRegina Caelorum (Quaresma), Regina Caeli (Páscoa), e do Salve Regina (Tempo Comum). Ao longo dos anos, meus filhos foram pegando cada uma delas (e a Ave Maria também). Este Advento passado, acrescentamos o último da coleção (AlmaRedemptoris Mater), e nada tocou meu coração mais do que quando três dos meus filhos me cumprimentaram à porta cerca de uma semana mais tarde animados para me dizer que tinham “aprendido isso.” Lá eles ficaram na frente da lareira, e eles cantaramem uníssono a melodia mais angelical que já ouvi.

A obtenção de gravações de qualidade pode ser uma maneira adequada na ajuda familiar para aprender os cânticos que irão integrar a sua vida de oração. É claro que a obtenção das pontuações musicais é útil também. A internet está cheia com estas pontuações de gregorianos.

O canto gregoriano é a música própria da Igreja. Parece justo que ele deva encontrar um lugar em casa também; que não é senão um modo pelo qual a igreja doméstica pode orientar-se à Igreja Universal.

Autor: J. Jacob Tawney

Tradução: Una Voce Brasil

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