Com certeza esta é umas das encíclicas mais bonitas que tenho lido. Mystici Corporis do Papa Pio XII, de 1943. Se ainda não leu, leia agora! Este documento deveria ser utilizado em toda catequese. Santo Agostinho disse que a autoridade da Igreja deveria ser muito bem explicada pois dificilmente os fiéis discordariam da divindade de Cristo mas sobre a união a Igreja seria fácil uma interpretação errônea ( e não é justamente isso o problema na Igreja de hoje?) O Papa Pio XII explica com uma simplicidade mas ao mesmo tempo tão profundo sobre a Igreja visível e invísvel que muitos pensariam 2 vezes antes de fazer pouco caso ao que o Papa fala. Mas deixo o Santo Papa explicar, afinal é o Magistério vivo da Igreja quem tem autorida para ensinar e não eu:). Aqui alguns trechos:
CARTA ENCÍCLICA
MYSTICI CORPORIS
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XII
O CORPO MÍSTICO DE JESUS CRISTO
E NOSSA UNIÃO NELE COM CRISTO
MYSTICI CORPORIS
DO SUMO PONTÍFICE
PAPA PIO XII
O CORPO MÍSTICO DE JESUS CRISTO
E NOSSA UNIÃO NELE COM CRISTO
5. Confiamos ainda que o que vamos expor sobre o Corpo Místico de Cristo não
será desagradável nem inútil aos que vivem fora do seio da Igreja católica. E
isto, não só porque a sua benevolência para com a Igreja parece aumentar de dia
para dia, senão também porque vendo eles atualmente como as nações se erguem
contra as nações e os reinos contra os reinos, e crescem indefinidamente as
discórdias, os antagonismos e as sementeiras do ódio, se volverem os olhos para
a Igreja, se contemplarem a sua unidade de origem divina, por virtude da qual os
homens de todas as nacionalidades se unem a Cristo com vínculos fraternos, então
sem dúvida ver-se-ão forçados a admirar uma tal sociedade de amor e sentir-se-ão
atraídos com o auxílio da graça a participar da mesma unidade e caridade...
..."a razão iluminada pela fé, quando indaga com diligência, piedade e sobriedade,
alcança sempre por graça de Deus alguma inteligência, sempre frutuosíssima, dos
mistérios, quer pela analogia com os conhecimentos naturais, quer pela relação
que os mistérios têm entre si e com o último fim do homem"; embora, como adverte
o mesmo sagrado concílio (CVI), "nunca ela chegue a compreender os mistérios como as
verdades que constituem o seu próprio objeto".
...Essas graças podia ele distribuí-las diretamente por si mesmo (Jesus) a todo o gênero
humano. Quis, porém, comunicá-las por meio da Igreja visível, formada por
homens, afim de que por meio dela todos fossem, em certo modo, seus
colaboradores na distribuição dos divinos frutos da Redenção. E assim como o
Verbo de Deus, para remir os homens com suas dores e tormentos, quis servir-se
da nossa natureza, assim, de modo semelhante, no decurso dos séculos se serve da
Igreja para continuar perenemente a obra começada....
1. A Igreja é um "corpo"
Corpo único, indiviso, visível
14. Que a Igreja é um corpo, ensinam-nos muitos passos da sagrada
Escritura: "Cristo, diz o Apóstolo, é a cabeça do corpo da Igreja" (Cl
1, 18). Ora, se a Igreja é um corpo, deve necessariamente ser um todo sem
divisão, segundo aquela sentença de Paulo: "Nós, muitos, somos um só corpo em
Cristo" (Rm 12, 5). E não só deve ser um todo sem divisão, mas também
algo concreto e visível, como afirma nosso predecessor de feliz memória Leão
XIII, na encíclica "Satis
cognitum": "Pelo fato mesmo que é um corpo, a Igreja torna-se visível
aos olhos". (4) Estão pois longe da verdade revelada os que imaginam a Igreja
por forma, que não se pode tocar nem ver, mas é apenas, como dizem, uma coisa
"pneumática" que une entre si com vínculo invisível muitas comunidades cristãs,
embora separadas na fé.
15. O corpo requer também multiplicidade de membros, que unidos
entre si se auxiliem mutuamente. E como no nosso corpo mortal, quando um membro
sofre, todos os outros sofrem com ele, e os sãos ajudam os doentes; assim também
na Igreja os membros não vivem cada um para si, mas socorrem-se e auxiliam-se
uns aos outros, tanto para mútua consolação, como para o crescimento progressivo
de todo o Corpo....
Corpo composto "orgânica" e "hierarquicamente"
16. Mais ainda. Como na natureza não basta qualquer aglomerado de
membros para formar um corpo, mas é preciso que seja dotado de órgãos ou membros
com funções distintas e que estejam unidos em determinada ordem, assim também a
Igreja deve chamar-se corpo sobretudo porque resulta de uma boa e apropriada
proporção e conjunção de partes e é dotada de membros diversos e unidos entre
si. É assim que o Apóstolo descreve a Igreja quando diz: "como num só corpo
temos muitos membros, e os membros não têm todos a mesma função, assim muitos
somos um só corpo de Cristo, e todos e cada um membros uns dos outros"
(Rm 12, 4).
17. Não se julgue, porém, que esta bem ordenada e "orgânica"
estrutura do corpo da Igreja se limita unicamente aos graus da hierarquia; ou,
ao contrário, como pretende outra opinião, consta unicamente de carismáticos,
isto é, dos féis enriquecidos de graus extraordinárias, que nunca hão de faltar
na Igreja. E fora de dúvida que todos os que neste corpo estão investidos de
poder sagrado, são membros primários e principais, já que são eles que, por
instituição do próprio Redentor, perpetuam os ofícios de Cristo doutor, rei e
sacerdote. Contudo os santos Padres, quando celebram os ministérios, graus,
profissões, estados, ordens, deveres deste corpo místico, não consideram só os
que têm ordens sacras, senão também todos aqueles que, observando os conselhos
evangélicos, se dão à vida ativa, à contemplativa, ou à mista, segundo o próprio
instituto; bem como os que, vivendo no século, se consagram ativamente a obras
de misericórdia espirituais ou corporais; e, finalmente, também os que vivem
unidos pelo santo matrimônio. Antes é de notar que, sobretudo nas atuais
circunstâncias, os pais e as mães de família, os padrinhos e madrinhas, e
notadamente todos os seculares que prestam o seu auxílio à hierarquia
eclesiástica na dilatação do reino de Cristo, ocupam um posto honorífico, embora
muitas vezes humilde, na sociedade cristã, e podem muito bem sob a inspiração e
com o favor de Deus subir aos vértices da santidade, que por promessa de Jesus
Cristo nunca faltará na Igreja.
Corpo dotado de órgãos vitais, isto é, sacramentos
18. E como o corpo humano nos aparece dotado de energias especiais
com que provê à vida, saúde e crescimento seu e de todos os seus membros, assim
o Salvador do gênero humano providenciou admiravelmente ao seu corpo místico
enriquecendo-o de sacramentos, que com uma série ininterrupta de graças amparam
o homem desde o berço até ao último suspiro, e ao mesmo tempo provêem
abundantissimamente às necessidades sociais da Igreja. Com efeito, pelo Batismo
os que nasceram a esta vida mortal, não só renascem da morte do pecado e são
feitos membros da Igreja, senão que, assinalados com o caráter espiritual, se
tornam capazes de receber os outros dons sagrados. Com a Crisma infunde-se nova
força nos féis para conservarem e defenderem corajosamente a santa madre Igreja
e a fé que dela receberam. Pelo sacramento da Penitência oferece-se aos membros
da Igreja caídos em pecado uma medicina salutar, que serve não só a
restituir-lhes a saúde, mas a preservar os outros membros do corpo místico do
perigo de contágio, e até a dar-lhes estímulo e exemplo de virtude. E não basta.
Pela sagrada Eucaristia alimentam-se e fortificam-se os fiéis com um mesmo
alimento e se unem entre si e a divina Cabeça de todo o Corpo com um vínculo
inefável e divino. Finalmente ao leito dos moribundos acode a Igreja, mãe
compassiva, e com o sacramento da Extrema-unção, se nem sempre lhes dá a saúde
do corpo, por Deus assim o dispor, dá-lhes às almas feridas a medicina
sobrenatural, abre-lhes o céu, onde como novos cidadãos e seus novos protetores
gozarão por toda a eternidade da divina bem-aventurança.
19. As necessidades sociais da Igreja proveu Cristo de modo
especial com dois sacramentos que instituiu: com o Matrimônio em que os cônjuges
são reciprocamente um ao outro ministros da graça, proveu ao aumento externo e
bem ordenado da sociedade cristã; e, o que é ainda mais importante, à boa e
religiosa educação da prole, sem a qual o corpo místico correria perigo; com a
Ordem dedicam-se e consagram-se ao serviço de Deus os que hão de imolar a Hóstia
eucarística, sustentar a grei dos féis com o Pão dos Anjos e com o alimento da
doutrina, dirigi-la com os divinos mandamentos e conselhos e purificá-la com o
batismo e a penitência, enfim fortalecê-la com as outras graças celestes.
21. Como membros da Igreja contam-se realmente só aqueles que receberam o
lavacro da regeneração e professam a verdadeira fé, nem se separaram
voluntariamente do organismo do corpo, ou não foram dele cortados pela legítima
autoridade em razão de culpas gravíssimas. "Todos nós, diz o Apóstolo, fomos
batizados num só Espírito para formar um só Corpo, judeus ou gentios, escravos
ou livres" (l Cor 12, 13). Portanto como na verdadeira sociedade dos
fiéis há um só corpo, um só Espírito, um só Senhor, um só batismo, assim não
pode haver senão uma só fé (cf. Ef 4, 5), e por isso quem se recusa a
ouvir a Igreja, manda o Senhor que seja tido por gentio e publicano (cf.
Mt 18, 17). Por conseguinte os que estão entre si divididos por motivos
de fé ou pelo governo, não podem viver neste corpo único nem do seu único
Espírito divino...
22. Não se deve, porém, julgar que já durante o tempo da peregrinação terrestre,
o corpo da Igreja, por isso que leva o nome de Cristo, consta só de membros com
perfeita saúde, ou só dos que de fato são por Deus predestinados à sempiterna
felicidade. Por sua infinita misericórdia o Salvador não recusa lugar no seu
corpo místico àqueles a quem o não recusou outrora no banquete (Mt 9,
11; Mc 2, 16; Lc 15,2). Nem todos os pecados, embora graves,
são de sua natureza tais que separem o homem do corpo da Igreja como fazem os
cismas, a heresia e a apostasia. Nem perdem de todo a vida sobrenatural os que
pelo pecado perderam a caridade e a graça santificante e por isso se tornaram
incapazes de mérito sobrenatural, mas conservam a fé e a esperança cristã, e
alumiados pela luz celeste, são divinamente estimulados com íntimas inspirações
e moções do Espírito Santo ao temor salutar, à oração e ao arrependimento das
suas culpas.
23. Tenha-se, pois, sumo horror ao pecado que mancha os membros místicos do
Redentor; mas o pobre pecador que não se tornou por sua contumácia indigno da
comunhão dos fiéis, seja acolhido com maior amor, vendo-se nele com caridade
operosa um membro enfermo de Jesus Cristo: Pois que é muito melhor, como nota o
bispo de Hipona, "curá-los no corpo da Igreja, do que amputá-los como membros
incuráveis".(5) "Enquanto o membro está ainda unido ao corpo não há por que
desesperar da sua saúde; uma vez amputado, nem se pode curar, nem se pode
sarar".(6)
a) Cristo foi o "Fundador" deste corpo
25. Devendo expor brevemente o modo como Cristo fundou o seu corpo
social, acode-nos antes de mais nada esta sentença de nosso predecessor de feliz
memória Leão XIII: "A Igreja, que já concebida, nascera do lado do segundo Adão,
adormecido na cruz, manifestou-se pela primeira vez à luz do mundo de modo
insigne no celebérrimo dia de Pentecostes".(7) De fato o divino Redentor começou
a fábrica do templo místico da Igreja, quando na sua pregação ensinou os seus
mandamentos; concluiu-a quando, glorificado, pendeu da Cruz; manifestou-a enfim
e promulgou-a quando mandou sobre os discípulos visivelmente o Espírito
paráclito.
26. Durante o seu ministério público escolhia os Apóstolos,
enviando-os como ele próprio tinha sido enviado pelo Pai (Jo 17,18),
como mestres, guias, agentes da santidade na assembléia dos fiéis; designava o
chefe deles e seu vigário em terra (cf. Mt 16,18-19); fazia-lhes
conhecer tudo o que tinha ouvido do Pai (Jo 15, 15; 17, 8.14); indicava
também o batismo (cf. Jo 3, 5) como meio para os que no futuro cressem
serem incorporados no Corpo da Igreja; finalmente chegando ao anoitecer da vida,
durante a última ceia, instituía a Eucaristia, admirável sacrifício e admirável
sacramento.
27. Ter ele consumado no patíbulo da cruz a sua obra, afirmam-no,
numa série ininterrupta de testemunhos, os santos Padres, que notam ter a Igreja
nascido na cruz do lado do Salvador, qual nova Eva, mãe de todos os viventes
(cf. Gn 3, 20). "Agora, diz o grande Ambrósio tratando do lado de
Cristo aberto, é ela edificada, agora formada, agora esculpida, agora criada...
Agora é a casa espiritual elevada a sacerdócio santo".(8) Quem devotamente
investigar esta venerável doutrina, poderá sem dificuldade ver as razões em que
ela se funda...
30. Se nosso Salvador por sua morte foi feito cabeça da Igreja no pleno sentido
da palavra, igualmente pelo seu sangue foi a Igreja enriquecida daquela
abundantíssima comunicação do Espírito que divinamente a ilustra desde que o
Filho do homem foi elevado e glorificado no seu doloroso patíbulo. Então como
nota santo Agostinho,(13) rasgado o véu do templo, o orvalho dos dons do
Paráclito, que até ali descera somente sobre o velo, isto é, sobre o povo de
Israel, começou deixando o velo enxuto, a regar a Igreja e abundantemente toda a
terra, quer dizer a Igreja católica, que não conhece fronteira de estirpe ou
território. Como no primeiro instante da encarnação, o Filho do Eterno Pai ornou
a natureza humana, consigo substancialmente unida, com a plenitude do Espírito
Santo, para que fosse apto instrumento da divindade na hora cruenta da redenção;
assim na hora da sua preciosa morte enriqueceu a sua Igreja com mais copiosos
dons do Paráclito, para a tornar válido e perpétuo instrumento do Verbo
encarnado na distribuição dos divinos frutos da redenção.
De fato a missão jurídica da Igreja e o poder de ensinar, governar e administrar os sacramentos não têm força e vigor sobrenatural para edificar o corpo de Cristo, senão porque Cristo pendente da cruz abriu à sua Igreja a fonte das divinas graças com as quais pudesse ensinar aos homens doutrina infalível, governá-los salutarmente por meio de pastores divinamente iluminados, e inundá-los com a chuva das graças celestes.
32. A Igreja que com seu sangue fundara, robusteceu-a com energias especiais
descidas do céu, no dia de Pentecostes. Com efeito, depois de ter solenemente
investido no seu ofício aquele que já antes tinha designado para seu vigário,
subiu ao céu; e, sentado à direita do Pai, quis manifestar e promulgar a sua
esposa com a descida visível do Espírito Santo, com o ruído do vento impetuoso e
com as línguas de fogo (cf. At 2, 1-4). Como ele próprio ao princípio
do seu público ministério tinha sido manifestado pelo Eterno Pai por meio do
Espírito Santo que em figura de pomba desceu e pousou sobre ele (cf. Lc
3, 22; Mc 1, 10), assim igualmente quando os Apóstolos estavam para
começar o sagrado ofício de pregar, mandou Cristo Senhor nosso do céu o seu
Espírito que, tocando-os com línguas de fogo, mostrou, como com o dedo de Deus,
a missão e o múnus sobrenatural da Igreja.
Cristo é a cabeça deste corpo
36. E porque Cristo ocupa lugar tão sublime, com razão é ele só a reger e
governar a Igreja; nova razão para se assemelhar à cabeça.... Uma vez que governar uma sociedade
composta de homens não é outra coisa do que com útil providência, meios aptos e
retas normas conduzi-los a um fim determinado,(17) é fácil de ver que nosso
Salvador, modelo e exemplar dos bons pastores (cf. Jo 10,1-18;1Pd 5,115),
exercita maravilhosamente todos estes ofícios.
37. Ele na sua vida mortal instruiu-nos com leis, conselhos, avisos, em palavras
que não passarão nunca e para os homens de todos os tempos serão Espírito e vida
(cf. Jo 6,63). Além disso deu aos apóstolos e seus sucessores o tríplice poder
de ensinar, reger e santificar, poder definido com especiais leis, direitos e
deveres, que constituem a lei fundamental de toda a Igreja.
38. Mas nosso divino Salvador governa e dirige também por si mesmo e diretamente
a sociedade que fundou; pois que ele reina nas inteligências e corações dos
homens e dobra e compele a seu beneplácito as vontades ainda mais rebeldes. "O
coração do rei está na mão do Senhor; incliná-lo-á para onde quiser" (Pr 21,1).
Com este governo interno ele, qual "pastor e bispo das nossas almas" (cf. 1Pd
2,25) não só tem cuidado de cada um em particular, mas também de toda a Igreja;
tanto quando ilumina e fortalece os sagrados pastores para que fel e
frutuosamente se desempenhem de seus ofícios, como quando - em circunstâncias
particularmente graves - faz surgir no seio da Igreja homens e mulheres de
santidade assinalada, que sejam de exemplo aos outros fiéis, para incremento do
seu corpo místico. Acresce ainda que Cristo do céu vela sempre com particular
amor pela sua esposa intemerata, que labuta neste terrestre exílio; e quando a
vê em perigo, ou por si mesmo, ou pelos seus anjos (cf. At 8,26; 9,119; 10,1-7;
12,3-10), ou por aquela que invocamos como auxílio dos cristãos, e pelos outros
celestes protetores, salva-a das ondas procelosas e, serenado e abonançado o
mar, consola-a com aquela paz "que supera toda a inteligência" (Fl 4,7).
39. Não se julgue, porém, que o seu governo se limita a uma ação invisível, (18)
ou extraordinária. Ao contrário, o divino Redentor governa o seu corpo místico
de modo visível e ordinário por meio do seu vigário na terra. Vós bem sabeis,
veneráveis irmãos, que Cristo nosso Senhor, depois de ter, durante a sua
carreira mortal, governado pessoalmente e de modo visível o seu "pequeno
rebanho" (Lc 12,32), quando estava para deixar este mundo e voltar ao Pai,
confiou ao príncipe dos apóstolos o governo visível de toda a sociedade que
fundara. E realmente, sapientíssimo como era, não podia deixar sem cabeça
visível o corpo social da Igreja que instituíra. Nem se objete que com o primado
de jurisdição instituído na Igreja ficava o corpo místico com duas cabeças.
Porque Pedro, em força do primado, não é senão vigário de Cristo, e por isso a
cabeça principal deste corpo é uma só: Cristo; o qual, sem deixar de governar a
Igreja misteriosamente por si mesmo, rege-a também de modo visível por meio
daquele que faz as suas vezes na terra; e assim a Igreja, depois da gloriosa
ascensão de Cristo ao céu não está educada só sobre ele, senão também sobre
Pedro, como fundamento visível.
Que Cristo e o seu vigário formam uma só cabeça ensinou-o solenemente nosso predecessor de imortal memória Bonifácio VIII, na carta apostólica "Unam Sanctam"(19) e seus sucessores não cessaram nunca de o repetir.
40. Em erro perigoso estão, pois, aqueles que julgam poder unir-se a Cristo,
cabeça da Igreja, sem aderirem fielmente ao seu vigário na terra. Suprimida a
cabeça visível e rompidos os vínculos visíveis da unidade, obscurecem e deformam
de tal maneira o corpo místico do Redentor, que não pode ser visto nem
encontrado de quantos demandam o porto da eterna salvação.
É Ele que infunde nos féis a luz da fé; Ele que aos pastores e doutores e sobre
todos ao seu vigário na terra enriquece divinamente com os dons sobrenaturais de
ciência, entendimento e sabedoria, para que conservem fielmente o tesouro da fé,
o defendam corajosamente, piedosa e diligentemente o expliquem e valorizem; Ele
é enfim o que invisível preside e dirige os concílios da Igreja.(26)
Cristo é o "sustentador" da Igreja
52. Observa Belarmino, com muita sutileza, (28) que com esta denominação de
corpo Cristo não quer dizer somente que ele é a cabeça do seu corpo místico,
senão também que sustenta a Igreja, de tal maneira que a Igreja é como uma
segunda personificação de Cristo. Afirma-o também o Doutor das gentes, quando,
na epístola aos Coríntios, chama, sem mais, Cristo a Igreja (l Cor 12,12),
imitando de certo o divino Mestre que, quando ele perseguia a Igreja, lhe bradou
do céu: "Saulo, Saulo, por que me persegues?" (cf. At 9,4; 22, 7; 26,14). Antes
são Gregório Nisseno diz-nos que o Apóstolo repetidamente chama Cristo à Igreja;
(29) nem vós, veneráveis irmãos, ignorais aquela sentença de Agostinho: "Cristo
prega a Cristo".(30)
53. Todavia essa nobilíssima denominação não deve entender-se como se aquela
inefável união, com que o Filho de Deus assumiu uma natureza humana determinada,
se estende a toda a Igreja; mas quer dizer que o Salvador comunica à sua Igreja
os seus próprios bens de tal forma que ela, em toda a sua vida visível e
invisível, é um perfeitíssimo retrato de Cristo. De fato em força da missão
jurídica com que o divino Redentor enviou os apóstolos ao mundo, como o Pai o
enviara a ele (cf. Jo 17,18 e 20,21), é ele que pela sua Igreja batiza, ensina,
governa, ata, desata, oferece e sacrifica.
...É ele que, embora resida e opere divinamente em todos os membros, contudo também
age nos inferiores por meio dos superiores; ele enfim que cada dia produz na
Igreja com sua graça novos incrementos, mas não habita com a graça santificante
nos membros totalmente cortados do corpo...
"A nossa cabeça, diz santo Agostinho, ora por nós; acolhe uns membros, castiga
outros, a outros purifica, a outros consola, a outros cria, a outros chama, a
outros torna a chamar, a outros corrige, a outros reintegra".(34) A nós é dado
cooperar com Cristo nesta obra, "de um e por um somos salvos e salvamos".(35)
62. De quanto até aqui expusemos, veneráveis irmãos, é evidente que estão em grave erro os que arbitrariamente ungem uma Igreja como que escondida e invisível;....pois que o Verbo de Deus assumiu a natureza humana passível, para que, uma vez fundada e consagrada com seu sangue a sociedade visível, "o homem fosse reconduzido pelo governo visível às realidades invisíveis".(43)
63...O Eterno Pai quis que ela fosse "o reino do seu Filho muito amado" (Cl 1,13);
mas realmente um reino em que todos os fiéis prestassem homenagem plena de
entendimento e de vontade, (45) e com humildade e obediência se conformassem
àquele que por nós "se fez obediente até à morte" (Fl 2,8).
Portanto nenhuma oposição ou contradição pode haver entre a missão invisível do Espírito Santo e o múnus jurídico dos pastores e doutores recebido de Cristo; pois que as duas coisas, como em nós o corpo e a alma, mutuamente se completam e aperfeiçoam e provêm igualmente do único Salvador nosso, que não só disse ao emitir o sopro divino: "Recebei o Espírito Santo" (Jo 20, 22), mas em voz alta e clara acrescentou: "Como o Pai me enviou a mim, assim eu vos envio a vós" (Jo 20, 21), e também: "Quem vos ouve a mim ouve" (Lc 10,16).
64. E se às vezes na Igreja se vê algo em que se manifesta a fraqueza humana,
isso não deve atribuir-se a sua constituição jurídica, mas àquela lamentável
inclinação do homem para o mal, que seu divino Fundador às vezes permite até nos
membros mais altos do seu corpo místico para provar a virtude das ovelhas e dos
pastores e para que em todos cresçam os méritos da fé cristã....Cristo,...não quis excluir da sua Igreja os pecadores; portanto se alguns de seus membros
estão espiritualmente enfermos,...é para aumentarmos a nossa compaixão para com os seus
membros.
65. Sem mancha alguma, brilha a santa madre Igreja nos sacramentos com que gera
e sustenta os filhos; na fé que sempre conservou e conserva incontaminada; nas
leis santíssimas que a todos impõe, nos conselhos evangélicos que dá; nos dons e
graças celestes, pelos quais com inexaurível fecundidade (46) produz legiões de
mártires, virgens e confessores. Nem é sua culpa se alguns de seus membros
sofrem de chagas ou doenças; por eles ora a Deus todos os dias: "Perdoai-nos as
nossas dívidas" e incessantemente com fortaleza e ternura materna trabalha pela
sua cura espiritual...
AVE MARIA
Fonte:Vaticano
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In Christo Rege!