Artigo escrito por Alice Hildebrand
Parte 4: O trabalho de Christopher West e a relação com o de Dietrich Von Hildebrand
Desde o Concílio Vaticano II, a Igreja têm passado por uma grave e múltiplas crises: crises de fé, crise de autoridade, crise intelectual (a confusão é generalizada) e crise moral. Nós devemos agradecer por qualquer "soldado" que entra na arena e oferece seus serviços ao Rei. Nós devemos ser gratos por qualquer testemunho oral ou escrito que ajude as pessoas à encontrarem o caminho de volta ao rebanho. Como escreve São Paulo, temos diferentes dons, diferentes talentos e devemos usá-los para a glória de Deus (Romanos 12:6-8).
1. "Revolução" Desenvolvimento ou doutrina?
No entanto, nenhum "soldado" a serviço da Igreja é chamado para ser um "revolucionário". Como mencionado anteriormente, Dietrich Von Hildebrand estava consciente de que tinha lançado luz sobre uma verdade muito importante que tinha sido muitas vezes obscurecida, mas não na doutrina católica, e sim na prática católica. Ele iria chamar - referindo-se ao respeitado Cardeal Newman - um possível desenvolvimento de doutrina, mas nunca "revolução". Não há revolução na Igreja Católica. A revelação divina terminou com a morte dos Apóstolos. A missão da Igreja é espalhar a mensagem divina, e clarificar e reclarificar ao longo dos anos.
Christopher West gosta de citar a afirmação provocativa de George Weigel que a Teologia do corpo de João Paulo II, é uma "bomba relógio teológica." Mas o que isso significa? Isso significa que "os cristãos devem completar o que a revolução sexual começou", como West disse à Nightline*? Mesmo Weigel escreveu no prefácio de um dos livros de Christopher West: "Uma cultura saturada de sexo imagina que a revolução sexual é libertadora. O oposto é a verdade. "(Teologia do Corpo Explicada, 2003, p. XVI).
Palavras como "revolução" e expressões bombásticas semelhantes são atraentes mas irresponsáveis. Palavras e frases infladas são como uma massagem psicológica usadas ao longo dos séculos por pessoas que conhecem o poder das palavras. A maioria das pessoas vivem em um tal estado espiritual e intelectual de sonolência que tais expressões podem ser úteis para sacudi-los dessa letargia. Mas são enganadoras. Como foi dito, não há revolução na Igreja: o único grande tsunami foi a Encarnação.
2. A calamidade do Discipulado
O objetivo deste trabalho é comparar a abordagem de Dietrich Von Hildebrand para a "esfera íntima", com a de Christopher West. Deixe-me ser clara e afirmar que West - pelo menos no meu conhecimento - nunca alegou explicitamente ser um discípulo de Dietrich Von Hildebrand, no entanto, sei de seu testemunho pessoal que West tem um profundo apreço pelo trabalho do meu marido, e eu sei que ele o tem elogiado publicamente. A questão é se West pode, pois, em qualquer sentido real, pelo menos por implicação, ser considerado discípulo do meu marido. Por muitas razões descritas neste artigo, eu não acredito que ele possa.
Vamos deixar de lado o fato incontestável de que Christopher West tem um grande talento oratório, e o faz muito bem. Tenho certeza de que ele quer trabalhar para a glória de Deus.
Deus pode usar qualquer "ferramenta" que O agrade para trazer almas de volta para Ele. O ponto que eu gostaria de enfatizar é que a abordagem de Dietrich von Hildebrand é muito diferente da abordagem de Christopher West, e que, portanto, seria enganoso chamar West de discípulo do meu marido. Ser um discípulo não é uma tarefa fácil: um conhecimento superficial da história da filosofia nos ensina que inúmeros pensadores consideravam-se discípulos de Aristóteles, mas se "o mestre daqueles que sabem" (para citar Dante) daria o prêmio para algum deles (ou seja, se Averróis, Avicena, São Tomás de Aquino ou Siger de Brabant merecem esta honra) é algo que devemos saber no outro mundo, quando a questão terá perdido todo o interesse.
Kant repudiou Fichte que dizia ser seu discípulo. Este último, por sua vez se recusou a reconhecer Schelling como um intérprete válido de sua mensagem. Kierkegaard escreveu "ter um discípulo é o pior das calamidades". Acontece que as pessoas chamam a si mesmos (ou agem como fossem) "discípulos" de um grande pensador, quando na verdade eles podem, em algumas questões, desviar seriamente as concepções do mentor. Se Christopher West, ainda que bem-intencionado, é um verdadeiro discípulo de João Paulo II é no mínimo questionável - como são muitos aspectos das apresentações de West. A pergunta que deve ser feita:
Por que a apresentação de João Paulo II sobre a Teologia do Corpo nunca foi seriamente desafiada, enquanto a interpretação de Christopher West desencadeou grande controvérsia? Será que West tem deturpado os aspectos fundamentais, e pior, empregou sua própria linguagem ofensiva e idéias de "cultura pop" vulgarizando-a?
Noli Me Tangere
Aqui, eu gostaria de refletir sobre um incidente na vida da Pequena Flor, Santa Teresinha do Menino Jesus - de Lisieux. Quando um estudante segurou-a quando ela estava saindo do trem, ela respondeu apropriadamente como uma moça deveria. Ela recomendou-se à Santíssima Virgem, e olhou para ele tão severamente que ele imediatamente soltou-a (depoimento de sua irmã Genevieve). Será que West ridicularizaria esta grande santa por ser "puritana"? Se ele fizesse, ele estaria errando, pois a resposta de St. Teresinha foi completamente católica, e a única correta: ela respondeu com - Noli me tangere- [Não me toque].
Esta atitude não tem nada a ver com um medo doentio do corpo, ou de um contato corporal, mas uma modéstia muito saudável e um auto-respeito.
Este "Noli me tangere" é uma expressão-chave sobre o mistério sobrenatural. É por isso que, Dietrich von Hildebrand, que teve uma priviligiada experiência cultural e artística, e foi familiarizado com pinturas sagradas desde a mais tenra juventude, nunca teria feito comentários sobre o tamanho do seio da Santíssima Virgem, como West tem repetido com louvar uma exortação para os católicos a "redescobrirem" os "seios abundantes" de Maria (revista Crisis, Março, 2002). Para a mente de Dietrich, isto seria um ato de irreverência. Seus seios eram sagrados e a resposta ao sagrado é admiração e não uma abordagem crítica ao tamanho do "bem-aventurados os seios que te sugaram". A arte religiosa verdadeira sempre entendeu isso.
Abençoado com um conhecimento artístico excepcional, Dietrich foi, desde a mais tenra juventude, treinado para apreciar obras de arte de acordo com sua perfeição artística. Um dos requisitos da arte sacra é que o artista consiga criar, através de meios visíveis, uma atmosfera de santidade. Quando Maria é representada, o elemento crucial é que a imagem inspire no espectador um sentimento de reverência. É totalmente irrelevante se ela é pintada com "seios abundantes", caso contrário, a maioria dos outros ícones teriam que ser descartados. Basta que o crente seja inspirado pela obra de arte, o fiél nunca deve ser excitado por ela.
2. Diferenças entre Christopher West e Dietrich Von Hildebrand
Como mulher de Dietrich von Hildebrand, posso afirmar o seguinte, em uma síntese, sobre as diferenças entre meu marido e Christopher West:
1. Meu marido não iria referir-se sobre a Teologia do Corpo como uma "revolução": Dietrich sabia que as revoluções visam destruir o passado e começar um novo. Um autêntico desenvolvimento da doutrina, no entanto, é algo completamente diferente: retira do sagrado depósito da nossa fé, e ajuda a florescer-se como uma flor, mas não inventa, ou contradiz. Quando a Teologia do Corpo é apresentado como uma revolução radical, e distorcida em algo que João Paulo II nunca teve a intenção, os católicos devem parar imediatamente, recuar, e perguntar-se: "Do que eu estou sendo alimentado" Ninguém pode ser muito cauteloso quando o assunto é proteger a alma.
Mas, na medida que a Teologia do Corpo pode ser "um desenvolvimento da doutrina", Dietrich teria acolhido - e fornecido tal afirmação permanecendo fiel à intenção original de João Paulo II, e teria feito de uma forma reverente e ortodoxa. A cada época a Igreja lança uma luz particular sobre algum aspecto da mensagem divina, e a Teologia do Corpo, devidamente interpretada, e consistente com o ensinamento histórico católico, pode ser vista como um exemplo disso. Mas Dietrich nunca teria considerado como uma "inovação" radical.
2. Em contraste com a língua solta usada por Christopher West, Dietrich von Hildebrand escolhia cuidadosamente as palavras que usava ao se referir aos mistérios da nossa fé, ou coisas que são íntimas e sagradas. Palavras como "porcaria" e "crapola"** iriam abalar sua audição espiritual. Ele sabia, como Kierkegaard, que "vulgaridade é sempre popular", mas mesmo assim nunca recorreu a isso, pois, como São Francisco de Sales escreveu: ". Nossas palavras são fiéis indicadores do estado de nossas almas" (Introdução ao à Vida Devota, Parte III, Capítulo 26).
Ao referir-se à mistérios (como a Anunciação, a Natividade, a Eucaristia) Dietrich escolhia palavras que convidassem seus ouvintes a uma tremenda reverência e adoração. Em contraste, as observações mencionadas por Christopher West - ainda que bem intencionada - sobre a "membrana sangrando" que a Santíssima Virgem teria ejetado após o nascimento de Cristo tocaria Dietrich quase como uma blasfêmia. Se hoje estivesse conosco, Dietrich teria certamente citado o aviso do Santo Ofício à West: "Obras teológicas estão sendo publicadas onde a delicada questão da virgindade de Maria 'em partu' é tratada com uma crueza deplorável de expressão e, o que é mais grave, em flagrante contradição com a tradição doutrinal da Igreja e com o senso de respeito que os fiéis possuem ". (Do Santo Ofício monitum, Julho, 1960, reimpresso em um breve tratado sobre a Virgem Maria por René Laurentin, AMI Press, 1991 , pp 318-329)
Post Scriptum: No início deste ano, e após este trabalho ter sido iniciado, Christopher West anunciou que iria tirar seis meses de licença de seu trabalho. É minha sincera esperança e oração que ele use esse tempo precioso, para "renovação pessoal e profissional", e considere as muitas preocupações que foram levantadas sobre o seu trabalho - e, assim, "renovar" a sua abordagem também.
Proponho esta reflexão sobre a filosofia de Dietrich Von Hildebrand na esperança de redirecionar o pensamento de Christopher West. Eu ainda lembro ao leitor que o site de West continua a oferecer cursos, incluindo cursos para jovens em locais públicos. Meu marido escreveu extensivamente sobre educação sexual nas escolas, sustentado firmemente pela grande encíclica - Educação cristã para a Juventude, do Papa Pio XI, 1929. Lá, Sua Santidade condena aulas de educação sexual. O livreto de Dietrich von Hildebrand - Educação Sexual: questões básicas -, pode ser lido e comprado no Véu da Inocência website, www.veilofinnocence.org.
Agradecimentos: Este artigo (no qual qualquer erro, imprecisões e imperfeições eu carrego total responsabilidade) é de fato um trabalho de colaboração com vários pensadores que admiro e respeito. Deixe-me mencionar, entre outros, o padre Brian Mullady, OP; Fr. Angelo Maria Geiger, F.I., Fr. Anthony e James Likoudis Mastroeni. Eles lêram o manuscrito. Seus comentários e críticas foram muito apreciados e úteis.
Dawn Eden também merece menção notável: seu profundo entendimento da obra de Christopher West têm sido fundamental para mim. Através do conhecimento dela, eu me familiarizei de vários textos de West que não tinha lido. Devo-lhê um agradecimento especial.
Por último, mas não menos importante, este artigo foi realmente feito em colaboração com meu amigo, William Doino. Seu conhecimento de história, sua inteligência, e uma paciência infinita com as mudanças que eu introduzia, foi de tal valor para mim, que eu não hesito em dizer que sem ele, nunca este manuscrito teria sido publicado. Obrigado a todos esses queridos amigos. Por ser tudo:
Ad majorem Dei gloriam.
Alice von Hildebrand. (Julho de 2010)
Original AQUI
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*nightline - programa de TV americano.
**crapola - não tenho tradução para isso.
Este artigo tem 30 páginas e é muito rico. Não tenho encontrado tempo para traduzi-lô inteiramente portanto resolvi colocar o final do artigo por ser praticamente um resumo do mesmo.
Acredito que esta parte esclarece e alerta muito bem sobre os problemas com a teologia do corpo apresentada por C. West e também serve para alertar e esclarecer aqueles que criticam a teologia do corpo ensinado pelo Beato JPII. Como Dr. Alice colocou há uma diferença entre o ensinamento do papa JPII que, segundo Dr. Alice não há nada de contradição com a tradição da Igreja católica, e a maneira com que Sr. West tem apresentado o TOC.
Dietrich von Hildebrand foi um filósofo e escritor religioso muito bem aclamado. Após sua conversão, Dietrich escreveu muito sobre a fé e moral católica. Seus livros e artigos ajudaram na conversão de muitos. Dietrich foi o primeiro filósofo à escrever sobre o mistério do casamento e sexualidade em um perspectiva católica e foi chamado pelo então Papa Pio XII como de "Doutor da Igreja do século XX". Leia mais aqui
Acredito que esta parte esclarece e alerta muito bem sobre os problemas com a teologia do corpo apresentada por C. West e também serve para alertar e esclarecer aqueles que criticam a teologia do corpo ensinado pelo Beato JPII. Como Dr. Alice colocou há uma diferença entre o ensinamento do papa JPII que, segundo Dr. Alice não há nada de contradição com a tradição da Igreja católica, e a maneira com que Sr. West tem apresentado o TOC.
Dietrich von Hildebrand foi um filósofo e escritor religioso muito bem aclamado. Após sua conversão, Dietrich escreveu muito sobre a fé e moral católica. Seus livros e artigos ajudaram na conversão de muitos. Dietrich foi o primeiro filósofo à escrever sobre o mistério do casamento e sexualidade em um perspectiva católica e foi chamado pelo então Papa Pio XII como de "Doutor da Igreja do século XX". Leia mais aqui
Dr Alice von Hildebrand é uma mulher como poucas - inteligente, educada, bem-humorada, caridosa e Católica - que bom seria se tivêssemos mais mulheres como ela. Defende a verdade e não si mesma.
Muito pertinente!
ResponderExcluirEste comentário não precisa ser aprovado. É só uma observação... Acho que no título do artigo, você quis dizer ENTUSIASTA moderno, não?
ResponderExcluirCorreção aceita!
ExcluirMuito obrigada!
In JMJ