28 maio 2012

Não há futuro sem família






CIDADE DO VATICANO, sexta-feira, 25 de maio de 2012 (ZENIT.org) - "Sem a família não há futuro": esta afirmação drástica do secretário de Estado vaticano, cardeal Tarcisio Bertone, foi a base do seu discurso na conferência "Família, fator de crescimento", na célebre Sala da Loba no Palácio Montecitorio.

O cardeal convidou o legislativo a "proteger a família", a garantir que os pais transmitam aos filhos seus valores morais e a "promover mais facilidades" para os filhos que cuidam de pais idosos ou doentes.

Promovido pelo Intergrupo Parlamentar para a Subsidiariedade, a conferência foi uma oportunidade de dirigir o olhar para o já iminente VII Encontro Mundial das Famílias, a ser realizado em Milão de 28 de maio a 3 de junho, com o tema "A Família: o Trabalho e a Festa".
Este tema do encontro, segundo o cardeal Bertone, destaca "três aspectos fundamentais da vida diária de cada pessoa", que dão origem a "dois aspectos constitutivos da experiência humana: a unidade da pessoa e o seu estar-em-relação" .

O trabalho, prosseguiu o secretário de Estado, "deve ser protegido" porque "faz parte da pessoa humana". A perda de emprego, de fato, "vai muito além da perda de salário, porque vem muitas vezes acompanhada de crises de vida, envolvendo família e ameaçando o equilíbrio".

A constituição da República Italiana, conforme o cardeal recordou, eleva o trabalho "ao patamar de dignidade e fundamento institucional da República". No entanto, ele "pode ​​escapar da regulação e ser causa de exploração ou alienação do povo", chegando a privar o homem "do descanso, da comunhão familiar, da dimensão festiva da família".

Trabalho-descanso-festa, continuou o cardeal, são "fatores de coesão e crescimento social e interno da família". Neste sentido, o trabalho "não pode ser vivido sem o aspecto festivo" e sem o descanso, que "deve gozar de requisitos de humanização e de ética para potencializar o bem-estar social".
O discurso do cardeal centrou-se depois na família como "comunidade natural fundada no matrimônio, que a Igreja sempre apresentou como lugar de encontro relacional, de enriquecimento mútuo e de pacto entre gerações".

Há, porém, "alguns fatores problemáticos da sociedade moderna" que determinam a urgência de proteger esta célula fundamental. Entre eles, Bertone indicou "a primazia do individual, a diferença relacional entre homens e mulheres a respeito do passado, a clara separação entre o público e o privado como se a pessoa não fosse sempre a mesma".

A família, no entanto, "não é um bem à disposição da nossa vontade, como se pudéssemos manipulá-la de acordo com os acontecimentos ou com a sensibilidade de cada momento".

O cardeal recordou a exortação apostólica Familiaris Consortio, de João Paulo II, um precioso documento de 1981 do Magistério da Igreja dedicado à família como "comunhão de amor e de vida, baseada no matrimônio entre um homem e uma mulher".
"Na sua reciprocidade esponsal frutífera", disse o secretário de Estado, o homem e a mulher são "uma unidade dos dois", a quem Deus confiou "não só a procriação, mas o próprio edifício da história", como escreveu João Paulo II em sua Carta às mulheres, de 1995.

"A família é o lugar onde a vida humana nasce e onde as crianças crescem e são educadas; lugar privilegiado onde se adquirem os valores fundamentais da solidariedade, da responsabilidade mútua e do compromisso abnegado para com o outro".

"A paz e a coesão social, tão desejadas pela comunidade civil, se assentam sobre o fundamento da família", acrescentou o cardeal, citando que a constituição italiana declara: "A República reconhece os direitos da família como sociedade natural fundada no matrimônio".

"Estruturas familiares boas, portanto, são a maneira mais eficiente de garantir uma sociedade estável e solidária", e, em seu apoio, o Estado deve dedicar "atenção especial às medidas econômicas e às leis e regulações ad hoc".

"É desejável que o sistema jurídico proteja a família como instituto do bem comum do ser humano. Mesmo nas dificuldades econômicas atuais, [...] o compromisso do casal de apoiar-se, de amar-se, de procriar e de educar os filhos deve ser reconhecido pelo Estado".

O cardeal voltou depois o pensamento a outro ponto fundamental: o direito dos pais de educar seus filhos. "A família é o lugar privilegiado da primeira e fundamental experiência do amor que as crianças têm, ou pelo menos deveriam ter, com os seus pais", disse ele. "Outras instituições apoiam esta missão, mas não podem substituí-la. Portanto, é essencial que o Estado garanta aos pais a oportunidade, especialmente na área ética e religiosa, de transmitir aos filhos os seus valores morais".

Neste sentido, é fundamental o direito à liberdade religiosa, "que garante, por parte das autoridades, o respeito às crenças dos pais" e "não força a criança a ensinamentos contrários a essas crenças". O mesmo vale para a educação sexual, "que não pode ser limitada a simples fatores biológicos, mas deve incluir, para ser verdadeiramente humana, os aspectos éticos, tendo em vista o pleno exercício da responsabilidade".

Não só os pais, mas as crianças também têm direitos, e "a Santa Sé está comprometida a protegê-los", disse o cardeal. Primeiro, o direito de ter "um pai e uma mãe com quem poder relacionar-se desde a infância; duas figuras complementares, que se amam e amam os filhos, de modo a conquistar uma identidade clara e sólida, uma personalidade madura e realizada".

"Nem todo desejo de ter um filho é um direito", explicou o cardeal, referindo-se às discussões sobre a adoção. "O bem da criança é fundamental em qualquer decisão", e este princípio se aplica também à regulação "dos tristes casos de separação de casais".

Referindo-se ao vínculo entre as gerações, o cardeal mencionou a "geração dos avós, de todas aquelas pessoas idosas que encontram na comunidade da família não só o apoio, mas também o afeto, o respeito e a atenção que merecem".

"Numa sociedade em que não poucas pessoas sofrem de solidão, não se deve esquecer a influência positiva dos laços familiares fortes", disse o cardeal, acrescentando que é tarefa da política "promover mais facilidades para os filhos que tomam conta de seus pais, idosos ou doentes, reconhecendo o seu compromisso como uma contribuição essencial para o bem comum".
O pensamento conclusivo foi voltado às mulheres, "significativa e imprescindível presença na família", graças à sua tarefa específica da maternidade. O perigo a ser evitado, disse o cardeal, é que, "precisamente por serem mães, elas acabem penalizadas no âmbito do trabalho". A verdadeira promoção da mulher "requer um trabalho estruturado, de forma que ela não tenha que pagar o seu crescimento profissional com o abandono da sua especificidade, em detrimento da família, na qual ela exerce um papel insubstituível como mãe".





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