17 novembro 2010

A obediência silenciosa de Maria


Maria na Constituição Dogmática Lumen Gentium
Compreendendo a missão de Maria na economia da salvação, se compreende melhor a Cristo (cf. CIC, 487). Ademais, o papel silencioso que exerce Maria no evangelho, a sua vocação de Mãe e Protetora de seu Filho Jesus Cristo, também nos ajuda a compreender a Igreja, Corpo Místico de Cristo.

A missão de Maria de cooperar com Deus na redenção do mundo, foi sempre livre, ela nunca foi um instrumento passivo (Lumen Gentium, 56). Ainda que as respostas de Maria a diversas exigências da sua missão fossem sempre a mesma, estas implicaram cada vez uma maior generosidade e compreensão do que Deus queria para ela e para seu Filho Jesus.

A Lumen Gentium ilustra como a atitude de Maria no evangelho e a sua resposta ao plano de Deus “pode ajudar a Igreja e a todos os fieis que trabalham por vencer o pecado e crescer na santidade, a levantar os olhos a Maria, modelo de virtude para todo cristão”.

A primeira resposta de Maria que encontramos no evangelho é “fiat” (Lc. 1, 38), Deus Filho se encarna, entra no mundo e se torna verdadeiro homem; assume a carne de Maria.

A partir deste momento, abre-nos os olhos para poder contemplar o mistério cristológico mais elevado: Jesus, Filho de Maria, Filho de Deus; duas naturezas distintas e uma só pessoa.

É Maria mesma quem nos diz como aprofundar neste mistério: uma vez terminadas as palavras do anjo na Anunciação, diz o evangelista Lucas: “E o anjo a deixou” (Lc. 1, 37). Foi no silêncio e na solidão que Maria meditou as palavras do anjo e aceitou a vontade de Deus.

Na Anunciação, início da vida terrena de Cristo e do Novo Testamento, dá-se como no começo do Antigo Testamento, uma criação.

No Gênesis, Eva, mãe de todo gênero humano, acreditando na serpente antiga (LG, 63), desobedece ao Criador (Gn 3, 6) e traz ao mundo a morte. Maria, por outro lado, confia nas palavras do anjo enviado por Deus, e com a sua submissão, Deus libera o homem do pecado e restitui a harmonia perdida com o Criador. “Mas o Pai das misericórdias quis que a aceitação, por parte da que Ele predestinara para mãe, precedesse a encarnação, para que, assim como uma mulher contribuiu para a morte, também outra mulher contribuísse para a vida. É o que se verifica de modo sublime na Mãe de Jesus, dando à luz do mundo a própria Vida, que tudo renova. […]; e aquilo que a virgem Eva atou, com a sua incredulidade, desatou-o a virgem Maria com a sua fé; e, por comparação com Eva, [os padres da Igreja] chamam Maria a "mãe dos vivos" e afirmam muitas vezes: “a morte veio por Eva, a vida veio por Maria” (LG, 56)”.

É de notar-se também que a obediência de Maria continua sendo humilde e silenciosa, “ela meditava todas estas coisas no seu coração” (Lc 2, 41-51). Este silêncio de Maria é mais eloquente que mil palavras, em contraste com a desobediência de Eva, que não contentando-se com o pecado consumado, seduz o marido para que também ele seja cúmplice (Cf. Gn 3, 6). Na vida pública de Jesus, faz-se evidente o loquaz silêncio de Maria, uma alma profundamente contemplativa, exemplo da Igreja de Cristo, que nestes dois mil anos de história não há cessado de meditar e apresentar ao mundo, de uma maneira sempre nova, a mensagem de Cristo. Ela é bem-aventurada porque ouve a palavra de Deus e a põe em prática (Mc. 3,35).

Tendo visto a atitude silenciosa de Maria na Anunciação e na vida pública de Cristo, não nos deveria admirar a resposta silenciosa de Maria ao pé da cruz, quando Cristo a constitui Mãe da nova “Criação” nascida do sangue redentor de Jesus (Jo 19, 25). Não esperávamos palavras, porque então não seria a Virgem Maria que nos foi dada a conhecer nos evangelhos até este momento. Tanto em Mc 3, 35 como aqui, o silencio de Maria é de aceitação, pois Maria assente a vontade de Deus no silencio do seu íntimo, “meditando nas maravilhas que Deus não há cessado de operar na sua vida” (Lc 1, 49).

Uma vez mais, agora fora dos evangelhos, encontraremos a mesma Maria que, com a sua só presença física e oração, acompanha a Igreja primitiva. No cenáculo orava com os discípulos, fortalecia-lhes e animava, hoje ora diante de Deus por cada um dos membros do corpo místico de Cristo, implorando para que também hoje atue o Espírito Santo na Igreja militante: Antes do dia de Pentecostes, os Apóstolos "perseveravam unânimes em oração, com as mulheres, Maria Mãe de Jesus e Seus irmãos" (At. 1, 14), implorando Maria, com as suas orações, o dom daquele Espírito, que já sobre si descera na anunciação.

É obra da providência divina que o último registro de Maria no Novo Testamento, antes da Assunção, tenha sido ao lado dos Apóstolos, colunas da Igreja de Cristo, no dia de Pentecostes, quando Nosso Senhor convalida a fundação de sua Igreja. É Cristo dando-nos a entender que ele veio ao mundo por intermédio de Maria e que, agora, a sua Igreja continuará no mundo a sua missão de sacramento de salvação debaixo do auxilio e proteção maternal de Maria Santíssima.

Por: Pe.Eduardo da Costa, LC

 Fonte: Pastoralis

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In Christo Rege!

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