Como é fácil ser enganado por tantas vozes que, na nossa sociedade, defendem um uso permissivo da sexualidade, sem qualquer consideração pela modéstia, pelo respeito de si mesmo e pelos valores morais que conferem qualidade às relações humanas! Isto é adorar uma falsa divindade. Em vez de nos trazer a vida, leva-nos à morte.
Prezados jovens amigos,
.... Que quer dizer realmente estar «vivo», viver plenamente a vida? Isto é o que todos nós queremos, especialmente na juventude, e é isto o que Cristo quer para nós. Assim falou Ele: «Eu vim para que tenham vida, e a tenham em abundância» (Jo 10, 10). O instinto mais radicado em todo o ser vivo é conservar a vida, crescer, desenvolver-se e transmitir aos outros o dom da vida. Consequentemente é de todo natural questionar-se sobre o modo melhor que há para realizar tudo isto.
Esta questão era tão premente para quantos viviam no Antigo Testamento com o é para nós hoje. Sem dúvida ouviam com atenção quando Moisés lhes dissera: «Coloco diante de ti a vida e a morte, a felicidade e a maldição. Escolhe a vida, e então viverás com toda a tua posteridade. Ama o Senhor, teu Deus, escuta a sua voz e permanece-Lhe fiel, porque Ele é a tua vida» (Dt 30, 19-20). Era claro o que tinham de fazer: deviam afastar-se dos outros deuses e adorar o verdadeiro Deus que Se tinha revelado a Moisés e deviam obedecer aos seus mandamentos. Talvez no vosso pensamento vos pareça muito improvável que, no mundo atual, as pessoas adorem outros deuses. Mas, às vezes as pessoas adoram «outros deuses» sem dar por isso. Os falsos «deuses» – independentemente do nome, da imagem ou da forma que lhes atribuamos – estão quase sempre ligados à adoração de três realidades: os bens materiais, o amor possessivo, o poder...
Em si mesmos, os bens materiais são bons. Não poderíamos sobreviver por muito tempo sem dinheiro, vestuário e uma casa. Para viver, temos necessidade de alimento. Mas, se formos glutões, se recusarmos partilhar o que temos com o faminto e o pobre, então transformamos estes bens numa falsa divindade. Quantas vozes se levantam na nossa sociedade materialista dizendo-nos que a felicidade se encontra dotando-se da maior quantidade possível de bens e de objectos de luxo! Mas isto significa transformar os bens em falsas divindades. Em vez de nos trazer a vida, levam-nos à morte.
O amor autêntico é certamente uma coisa boa. Sem ele, a vida dificilmente seria digna de ser vivida. O amor dá satisfação à nossa carência mais profunda; e, quando amamos, tornamo-nos mais nós mesmos, tornamo-nos humanos de forma mais plena. E todavia como se pode facilmente transformar o amor numa falsa divindade! As pessoas muitas vezes pensam que estão a amar, quando na realidade procuram possuir ou manipular o outro. Por vezes tratam-se os outros mais como objetos para satisfazer as próprias necessidades do que como pessoas que se devem prezar e amar.
Como é fácil ser enganado por tantas vozes que, na nossa sociedade, defendem um uso permissivo da sexualidade, sem qualquer consideração pela modéstia, pelo respeito de si mesmo e pelos valores morais que conferem qualidade às relações humanas! Isto é adorar uma falsa divindade. Em vez de nos trazer a vida, leva-nos à morte.
O poder que Deus nos deu para plasmar o mundo que nos rodeia é certamente uma coisa boa. Utilizado de modo apropriado e responsável, permite-nos transformar a vida das pessoas. Todas as comunidade têm necessidade de guias capazes. Como é forte, porém, a tentação de agarrar-se ao poder por si mesmo, de procurar dominar os outros ou explorar o ambiente natural para os próprios interesses egoístas! Isto é transformar o poder numa falsa divindade. Em vez de nos trazer a vida, leva-nos à morte.
O culto dos bens materiais, o culto do amor possessivo e o culto do poder levam muitas vezes as pessoas a «comportar-se como se fossem Deus»: procurar assumir o controle total, sem ter qualquer consideração pela sabedoria ou pelos mandamentos que Deus nos deu a conhecer. Este é o caminho que conduz à morte. Pelo contrário, a adoração do único Deus verdadeiro significa reconhecer Nele a fonte de tudo o que é bom, confiarmo-nos nós mesmos a Ele, abrirmo-nos à força regeneradora da sua graça e obedecer aos seus mandamentos: este é o caminho para quem escolhe a vida.
Um exemplo elucidativo do que significa afastar-se do caminho da morte para tomar o caminho da vida encontramo-lo numa página do Evangelho que todos vós – estou certo – bem conheceis: a parábola do filho pródigo. Ao início da narração, quando aquele jovem deixou a casa de seu pai, andava à procura dos prazeres ilusórios prometidos pelos falsos «deuses». Dissipou a sua herança numa vida de vícios, acabando num estado de pobreza e de miséria. Tendo tocado o fundo, esfomeado e abandonado, compreendeu como tinha sido tonto em deixar seu pai que o amava. Humildemente regressou a casa e pediu perdão. Cheio de alegria, o pai abraçou-o e exclamou: «Este meu filho estava morto e reviveu, estava perdido e encontrou-se» (Lc 15, 24).
Muitos de vós experimentaram pessoalmente a vivência por que passou aquele jovem. Talvez tenhais feito escolhas de que agora vos lamentais, decisões essas que vos levaram por um caminho que, embora então pudesse apresentar-se como atraente, na verdade conduziu-vos apenas para um estado ainda mais profundo de miséria e solidão. A decisão de abusar de droga ou álcool, de entrar em actividades criminosas ou autolesivas pôde então aparecer como um caminho para sair duma situação de dificuldade ou de confusão. Agora sabeis que, em vez de trazer a vida, levou à morte. Reconheço de bom grado a coragem demonstrada quando decidistes regressar ao caminho da vida, precisamente como o jovem da parábola...
... Amar é aquilo para que estamos programados, aquilo para que fomos projetados pelo Criador. Naturalmente não estou a falar de relações passageiras, superficiais; falo do verdadeiro amor, que é o cerne da doutrina moral de Jesus: «Amarás o Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma, com todo o teu entendimento e com todas as tuas forças» e «amarás o teu próximo como a ti mesmo» (cf. Mc 12, 30-31). Tal é, por assim dizer, o programa consolidado no íntimo de cada pessoa, bastando-nos ter a sabedoria e a generosidade para nos conformarmos a ele, estar dispostos a renunciar às nossas preferências para nos colocarmos ao serviço dos outros, dar a nossa vida pelo bem dos outros e, em primeiro lugar, por Jesus que nos amou e deu a sua vida por nós. Isto é o que os homens são chamados a cumprir; é o que significa estar realmente «vivo»...
Papa Bento XVI - (AUSTRÁLIA - 2008)
Fonte: Vaticano
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